Que o leite materno aumenta a imunidade e ajuda a prevenir doenças muita gente já sabe. Agora, um estudo inédito da Universidade de Pelotas (Rio Grande do Sul) mostrou outros impactos positivos na vida de bebês amamentados exclusivamente no peito durante os primeiros meses de vida.
A pesquisa acompanhou, até os 30 anos, 3.500 mil crianças nascidas em Pelotas. Aqueles que mamaram no peito obtiveram quatro pontos a mais no teste de QI (uma escala que mede a inteligência) e um acréscimo de R$ 341 na renda média na idade adulta quando comparados com indivíduos que não foram amamentados ou que receberam leite materno por menos de um mês.
Esse é o primeiro estudo no mundo a verificar o impacto da amamentação na renda e o primeiro no Brasil a pesquisar a influência do leite materno no QI, e foi publicado na quarta-feira (18) no jornal científico “The Lancet”. De acordo com os dados levantados, os maiores níveis de inteligência e renda média na vida adulta até os 30 anos foram encontrados entre as crianças que mamaram até 12 meses de idade.
Outras possíveis influências, como ter nascido em uma família com maior renda ou escolaridade, foram isoladas no estudo, comprovando, segundo os pesquisadores, que o efeito causado era mesmo devido à amamentação.
“Um mecanismo biológico possível para explicar esse efeito é a presença de ácidos graxos saturados de cadeia longa no leite materno, substâncias essenciais para o desenvolvimento cerebral”, afirmam os autores Cesar Victora e Bernardo Horta no estudo.
Amamentação é um assunto delicado. Ao mesmo tempo em que sua importância é amplamente divulgada, poucos alertam que pode ser um processo difícil no começo. E vejo que muitas mães ficam meio perdidas e desorientadas quando começam a encontrar obstáculos.
Eu mesma enfrentei alguns deles: demorei um pouco até acertar a “pega” da boca dos bebês no peito, senti dores e meu leite empedrou várias vezes. Fora a logística de amamentar gêmeos e o cansaço de levantar várias vezes durante a noite.
Mesmo assim consegui amamentar as crianças até um ano e um mês. Às vezes eu dava uma mamadeira com meu próprio leite tirado com a bomba ou com fórmula (por exemplo, se os dois choravam ao mesmo tempo de madrugada e eu não conseguia me ajeitar para amamentá-los simultaneamente), mas há mães que conseguem amamentar gêmeos exclusivamente no peito. Eu tive sorte: Chico e Manu mamavam super bem de todos os jeitos. Mas oferecer a mamadeira é um risco, porque pode confundir o bebê e atrapalhar a mamada no peito, então não é algo que eu possa recomendar. Funcionou para mim, nas minhas circunstâncias.
Estou contando tudo isso não para desanimar futuras mamães, mas para prepará-las. Amamentar é lindo, é gratificante, mas muitas vezes não é fácil. Se você está enfrentando dificuldades, não demore a pedir ajuda: fale com seu médico, seu pediatra, procure uma enfermeira especializada em amamentação ou um banco de leite, converse com outras mães, procure grupos de discussão sobre o assunto (no Facebook há vários). Ah, e não acredite naquelas pessoas que dizem que leite materno é “fraco” e não sustenta o bebê.
Foto: Aurimas Mikalauskas