Boneca Momo no YouTube Kids: fake news ou realidade? - Cabeça de Criança

Boneca Momo no YouTube Kids: fake news ou realidade?

Momo



Nesta semana pais e mães voltaram a se preocupar com uma história que tem ares de lenda urbana, mas que alguns juram que existe de verdade: a boneca Momo.

Alguns relatos começaram a reaparecer nesta semana de pessoas que disseram terem visto vídeos com a figura assustadora em vídeos inocentes do aplicativo YouTube Kids, como vídeos que ensinam a fazer slime. De acordo com esses relatos, a boneca Momo estaria ensinando as crianças a cometerem suicídio.

Segundo a coluna desta quarta-feira (20) de Sonia Racy no jornal “O Estado de São Paulo”, o Procon SP notificou o Google e o WhatsApp para que suspendam a veiculação de vídeos nos quais a personagem está inserida. “Chegou ao conhecimento do Procon-SP que vídeos voltados ao público infantil, veiculados no Youtube e WhatsApp, são interrompidos com inserções de uma animação em que uma personagem identificada como ‘Momo’ incita e demonstra práticas suicidas e ações violentas”, diz o comunicado.

O Procon deu às duas empresas um prazo de 48 horas, a partir desta quarta-feira, para prestar esclarecimentos sobre a fonte e a distribuição dos vídeos da boneca.

O YouTube, por sua vez, divulgou o seguinte esclarecimento: “Ao contrário dos relatos apresentados, não recebemos nenhuma evidência recente de vídeos mostrando ou promovendo o desafio Momo no YouTube Kids. Conteúdo desse tipo violaria nossas políticas e seria removido imediatamente. Também oferecemos a todos os usuários formas de denunciar conteúdo, tanto no YouTube Kids como no YouTube. O uso da plataforma por menores de 13 anos deve sempre ser feito pelo YouTube Kids e com supervisão dos pais ou responsáveis. É possível que a figura chamada de “Momo” apareça em vídeos no YouTube, mas somente naqueles que ofereçam um contexto sobre o ocorrido e estejam de acordo com nossas políticas. Para mais detalhes, vale consultar a página sobre Segurança Infantil no YouTube”.

Como o novo boato surgiu
Segundo o site E-Farsas, que se dedica a desmentir boatos na internet desde quando as pessoas ainda nem usavam o termo “fake news”, o ressurgimento das histórias sobre a Momo aconteceu em meados de fevereiro deste ano, quando a página no Facebook “Love Westhoughton”, dedicada a falar sobre uma cidade inglesa, publicou o relato de uma mãe dizendo que o filho tinha visto a Momo em um vídeo, mas sem citar o YouTube Kids.

Poucos dias depois, o jornal “The Manchester Evening News” reproduziu o relato, mas sem apresentar nenhuma evidência. A partir daí, a história foi sendo espalhada por outros jornais ingleses até chegar em veículos americanos. Até Kim Kardashian publicou um apelo ao YouTube para que retirassem o vídeo da Momo do site.

No fim de fevereiro, um site chamado “Guff Dump” publicou um vídeo da Momo em que a boneca, em inglês, dava instruções para crianças de como elas poderiam se automutilar com objetos cortantes. O vídeo aparece como se tivesse sido inserido dentro de outro vídeo com conteúdo voltado para crianças. Mas, de novo, não havia nenhuma evidência de que esse vídeo estivesse sendo veiculado dentro do YouTube Kids. Ou seja, pode ter sido apenas alguma montagem criada pelo próprio Guff Dump ou por outra pessoa.

Momo no Brasil

A história da Momo explodiu de novo no Brasil a partir do dia 15 deste mês, quando a revista Crescer publicou uma matéria em seu site que trazia o depoimento de uma mãe de Campinas que dizia ter recebido um vídeo da Momo no Whatsapp e que, ao conversar com a filha de oito anos, a menina teria dito que já viu a boneca macabra. Mas, de novo, não ficou esclarecido onde a menina viu a imagem, se foi no Whatsapp, no Facebook ou em algum outro site. Novamente não foi apresentada nenhuma evidência de vídeos da Momo no YouTube Kids.

Desde então surgiram relatos nos comentários do site da revista e também no Twitter de usuários brasileiros que dizem ter visto a Momo. Mas ainda sem links ou provas de que a Momo apareceu dentro dos vídeos infantis do YouTube Kids. Em entrevista à revista Crescer, em uma matéria posterior àquela que trazia o relato da mãe, o gerente de comunicação do YouTube Cauã Taborda dá uma possível explicação para os relatos: “As pessoas confundem o que é o YouTube Kids e o que é o YouTube convencional. Se um adulto estiver logado na sua conta do Youtube convencional e procurar por ‘Momo’, poderá, sim, encontrar vários vídeos em que ela aparece”, diz.

O blog Cabeça de Criança assistiu a vários vídeos no YouTube Kids e, por enquanto, não encontrou nenhuma imagem da boneca Momo inserida em vídeos voltados para crianças. Portanto, diante da falta de evidências, até o momento consideramos que essa história é fake news.

É claro que, se alguém fizer uma busca por “Momo” no Google ou no YouTube “adulto”, como explicou Cauã Taborda, essa pessoal vai encontrar diversas imagens e vídeos da boneca sinistra. É por isso que os pais devem sempre acompanhar o que os filhos assistem na internet, principalmente os menores. E devem controlar os sites que as crianças acessos, colocar filtros e bloqueios, enfim, ver junto e monitorar o tempo todo o que os filhos estão vendo.

Origem da Momo

Os primeiros relatos sobre a boneca Momo começaram a se espalhar no meio do ano passado. O boato era de que alguém se passando pela boneca contatava crianças e adolescentes pelo Whattsapp e propunha desafios que envolviam agressões, automutilações e até suicídio.

Existem até algumas matérias especulando uma ligação das mensagens da boneca a casos reais de suicídio, mais ou menos o mesmo que aconteceu com o tal “desafio da baleia azul”. Mas nenhuma conexão foi confirmada pelas polícias dos locais onde os suicídios ocorreram.

Ainda de acordo com o site E-Farsas, a imagem que deu origem à história da Momo é uma escultura de um metro de altura, criada em 2016, que foi apresentada em uma galeria de arte em Tóquio chamada “Vanilla Gallery”, em uma exposição sobre fantasmas. O artista que modelou a escultura, Keisuke Aiso, declarou que a jogou fora no ano passado e que não tem nenhuma relação com a disseminação dessas histórias pela internet.

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