Desde o final de 2015 um mosquito vem tirando o sono das grávidas brasileiras. É o Aedes aegypti, nosso velho conhecido transmissor da dengue, da chikungunya e do zika, vírus identificado pela primeira vez no Brasil em abril do ano passado.
O zika tem sido associado no Brasil a um aumento de casos de microcefalia, uma malformação cerebral, em bebês cujas mães foram contaminadas durante a gestação, principalmente nos Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba. Essa ligação ainda está sendo estudada por instituições de vários países, mas é considerada altamente provável.
Saiba mais sobre a doença e assista a um vídeo no qual o pediatra Moises Chencinski ensina como se proteger:
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Transmissão
O principal modo de transmissão do vírus é pela picada do Aedes aegypti. Outras formas de transmissão estão sendo estudadas. No último dia 5 a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), órgão vinculado o Ministério da Saúde, divulgou os resultados de um estudo no qual foi constatada a presença do vírus zika ativo (com potencial de provocar a infecção) em amostras de saliva e de urina. Porém, ainda é necessário investigar a relevância destas possíveis vias para a transmissão viral, ou seja, confirmar se esse potencial se traduz em uma infecção de fato.
Desde o início da epidemia de zika no Brasil, em 2015, pelo menos dois casos de transmissão por meio de transfusão sanguínea foram confirmados no Hemocentro da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), interior de São Paulo.
No início de fevereiro deste ano, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) divulgou um comunicado afirmando que a transmissão via sexual é possível, com base em três estudos de caso de contaminações nos EUA. Embora essa via de transmissão ainda não esteja cientificamente comprovada, a agência recomenda que casais esperando um bebê usem preservativo ou abstenham-se de relações sexuais durante a gestação.
Não há registros de contágio por leite materno. A orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde é que as mães infectadas com o zika continuem a amamentar seus filhos normalmente.
Prevenção
As principais formas de prevenir a transmissão do zika são o combate à proliferação dos mosquitos, eliminando possíveis criadouros (quaisquer objetos que permitam o acúmulo de água), e usar barreiras físicas, ou seja, telas nas janelas, portas fechadas nos horários de maior circulação do Aedes (de manhã cedo até o meio-dia), mosquiteiros em camas e berços e uso de calças compridas e blusas de mangas longas, de preferência de cor clara.
Repelentes podem e devem ser usados, principalmente os que contêm o princípio ativo icaridina, que podem ser aplicados a partir dos dois anos de idade. Bebês com menos de seis meses não devem usar nenhum tipo de repelente, e, entre seis meses e dois anos, apenas os com o princípio ativo IR3535 devem ser aplicados.
Sintomas
Os principais sintomas provocados pelo vírus são dor de cabeça, febre baixa, dores leves nas articulações, manchas vermelhas na pele, coceira e vermelhidão nos olhos. Outros sintomas menos frequentes são inchaço no corpo, dor de garganta, tosse e vômitos. Porém, cerca de 80% das pessoas infectadas pelo zika são assintomáticas, ou seja, não desenvolvem manifestações clínicas.
No geral a doença é benigna e os sintomas desaparecem espontaneamente após 3 a 7 dias. No entanto, a dor nas articulações, quando aparece, pode persistir por aproximadamente um mês. Formas graves da infecção são raras, e podem, excepcionalmente, evoluir para morte.
Microcefalia
Apesar de não ser grave tipicamente, o zika pode provocar sérios problemas quando atinge mulheres grávidas, principalmente as que estão no primeiro trimestre de gravidez. O vírus pode afetar o crescimento do feto e provocar microcefalia, uma malformação em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Os bebês com microcefalia nascem com perímetro cefálico (PC) igual ou inferior a 32 cm.
As crianças que nascem com microcefalia devem ser encaminhas a uma Unidade Básica de Saúde para que comecem um programa de estimulação precoce, que deve ser realizado desde o nascimento até os 3 anos de idade, período em que o cérebro se desenvolve mais rapidamente. O tratamento visa atingir o máximo do potencial de desenvolvimento de cada criança, englobando o crescimento físico e a maturação neurológica, comportamental, cognitiva, social e afetiva, que poderão ser prejudicados pela microcefalia.
Outras complicações do zika
O aumento no aparecimento de casos de infecção pelo zika em alguns Estados brasileiros vem sendo acompanhado por um acréscimo nos casos da rara síndrome de Guillain-Barré, que tem como principal sintoma a fraqueza muscular e a paralisia dos músculos. As manifestações começam pelas pernas, podendo, em seguida, seguir para o tronco, braços e face. A doença pode provocar desde leve fraqueza muscular até paralisia total dos quatro membros. A síndrome pode também acometer os músculos respiratórios e levar à morte.
A Guillain-Barré pode ser desencadeada por infecções virais (como HIV, dengue e influenza) e, mais raramente, por imunização, cirurgia ou algum trauma. Sua ligação com o zika ainda não foi 100% confirmada pelos cientistas, mas existem fortes indícios de que o vírus pode provocá-la.
Fontes: Agência Brasil, FioCruz, Ministério da Saúde, Organização Mundial da Saúde, Revista Pesquisa Fapesp