Quando uma mulher engravida, a família se preocupa com o enxoval, com a preparação do quarto, faz fotos do barrigão, lê livros e blogs sobre maternidade. Aí o bebê nasce e, muitas vezes, vem o desespero: como lidar com aquele filho? “Por mais que a gente estude, ninguém está pronto para ter filho”, disse a educadora parental Luanda Fonseca em evento promovido pela Huggies nesta quarta-feira (23) para marcar o Dia do Abraço, comemorado no dia 22.
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Para Luanda, é quando o bebê cresce um pouco e vira uma “mini pessoa”, com vontades, birras e contrariedades, que os adultos mais precisam aprender a lidar com seus demônios, suas dificuldades e seu desequilíbro.
Segundo a educadora, existem dois modelos mais frequentes de criar filhos. O modelo autoritário, que usa de ordens e agressões físicas e verbais e, na outra ponta, o permissivo, com pais que têm dificuldade em frustrar seus filhos e em delinear limites. “Esses pais se sentem sempre culpados, em falta com a criança”, diz Luanda.
Muitos pais vivem em uma montanha-russa. Sem conseguir colocar limites, partem para os gritos e castigos. Na sequência vem a culpa, e aí segue-se a permissividade. “Aí a montanha-russa vira algo impossível de se administrar”, diz a educadora.
Mãe de quatro filhos, Luanda vivia nessa montanha-russa quando decidiu procurar um caminho do meio e estudar a parentalidade positiva, que propõe uma vida em família mais leve, prazerosa e equilibrada.
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Na parentalidade positiva não existem fórmulas. “Não existem ‘cinco ferramentas para acabar com a birra’ ou ‘11 passos para criar crianças felizes’”, afirma Luanda. O que existe nesse caminho do meio é ouvir a criança. É delimitar espaços e margens seguras, mas com firmeza e gentileza, e deixar de lado os castigos. “Castigo não resolve. Pode eventualmente parar um mau comportamento, mas não ensina. Castigo é imposição de poder, uma necessidade do adulto mostrar quem manda. Se voltarmos à nossa infância, veremos que não foi com castigos e palmadas que aprendemos”, diz.
Para a educadora, a parentalidade positiva é transgressora e pode causar confusão, no início. “Os pais se sentem perdidos e se perguntam como vão ensinar a criança sem usar o castigo”, diz Luanda. “Existe uma frase de Jane Nelsen (psicóloga que desenvolveu o conceito de disciplina positiva) que diz assim: ‘de donde tiramos a ideia de que, para a criança se comportar bem, é preciso fazer ela se sentir mal?’”. Para Luanda, de alguma maneira torta fomos levados a acreditar que passar raiva e frustração adiante faz mais sentido do que dar amor.
De acordo com a parentalidade positiva, a criança vai aprender com amor, nos gestos e na fala do adulto, e quando nos comunicamos com os pequenos usando a nossa melhor capacidade. Esse processo passa não gritar, acolher e reconhecer os sentimentos da criança, não diminuir as queixas e frustrações dos filhos e usar muito contato físico. “Abraço é diálogo. Quando a gente abraça, nos redemos, comunicamos que está tudo bem e podemos começar de novo”, diz Luanda.
Porém, a educadora destaca que parentalidade positiva não é passar mão na cabeça da criança e deixar ela fazer o que quiser. “Estabelecer limites é importante. Rio sem margem transborda, e rio com margens muito estreitas é apenas um riacho”, afirma.
A teoria na prática
O conceito de parentalidade positiva é muito bonito e inspirador. Mas como aplicar suas ideias na prática?
Vamos a um exemplo: você está no supermercado ou no shopping com seu filho e ele (a) começa a fazer um escândalo porque quer comprar um produto que você não quer levar para casa.
Em vez de gritar ou ameaçar colocar a criança de castigo, um caminho do meio seria acolher a criança, abraçá-la, dizer que entende a frustração dela e explicar por que você não vai comprar aquele produto.
A neuropediatra Karina Weinmann, também presente no evento, dá outros exemplos de reforço positivo na educação de um filho. “Se a criança bater no irmão, em vez de dizer ‘não bata!’, diga ‘faça carinho no seu irmão’”, diz. Ou, se a criança estiver mexendo num interruptor de luz, em vez de dizer “não mexa aí”, diga algo como “apague e luz”, ou “acenda a luz”. “Sempre explique o ‘não’”, afirma Karina.
Foto: Simon Kellogg / CC