A importância dos contos de fada para o desenvolvimento infantil - Cabeça de Criança

A importância dos contos de fada para o desenvolvimento infantil



Estreia nesta quinta-feira (16), nos cinemas, uma versão “live-action”, ou seja, com atores de carne e osso, da animação “A Bela e a Fera”. Lançado em 1991, o desenho animado foi sucesso absoluto de bilheteria e se tornou um dos desenhos mais queridos da Disney (leia a resenha do filme mais abaixo).

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A primeira versão da clássica história da moça meiga, doce e inteligente que se apaixona por uma criatura horrível e cruel, que na verdade é um príncipe amaldiçoado, foi publicada pela escritora francesa Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve em 1740. Como todo conto de fadas, já ganhou diferentes variações ao longo dos séculos. Mas todas elas são cheias dos elementos comuns às narrativas deste gênero: personagens estereotipados, divisão entre o bem e o mal, a redenção pelo amor.

Os contos de fadas surgiram há séculos como forma de ensinar lições e apresentar o complexo mundo adulto às crianças. Se para quem é gente grande já difícil entender sentimentos, intenções, etc, para os pequenos é ainda mais complicado. “É por isso que, nos contos de fadas, os valores são muito exacerbados”, diz a psicóloga Gisela Monteiro, doutora em psicologia social na USP.

Ou seja, os bons são bons mesmo, e os maus são maus mesmos. Aqueles que se transformam ao longo da jornada só conseguem passar por isso pela força de um sentimento muito nobre. É o caso da Fera, que se torna uma criatura mais sensível pela força do amor de Bela.

Outro papel dos contos de fada é auxiliar a criança a dar nomes aos sentimentos. É mostrar que, quando a pessoa se sente traída ou abandonada, é normal chorar e sentir tristeza, por exemplo. “Eles ajudam a organizar e estruturar a experiência emocional”, diz Gisela. E as crianças, por sua vez, vão representar esses sentimentos nas brincadeiras de faz de conta.

Os conto exibem uma variedade de sentimentos. Assim como as histórias mostram tramas que envolvem afeto, cooperação, dedicação e amor, também vão mostrar um lado cruel, mesquinho, egoísta e individualista do ser humano. O importante é ressaltar para a criança que aquilo é apenas uma história de ficção, um outro universo. “As histórias mesmas dizem: ‘era uma vez’. Ou seja, aquilo aconteceu em um tempo e um lugar que não existem”, diz Gisela.

A convivência com os livros pode acontecer desde bebê, mas as histórias devem se adaptar à idade da criança. “Não dá para ler um livro longo para uma criança de um ano”, diz Gisela. Portanto, uma dica é procurar livros adequados à idade ou contar uma versão resumida e adaptada dos contos. A extensão e a complexidade das histórias podem ser aumentadas conforme a capacidade de compreensão do pequeno. Com o tempo a criança também vai manifestar seus gostos pessoais.

Resenha: “A Bela e a Fera”, o filme
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O live-action que chega aos cinemas nesta quinta-feira (16) é inteiramente baseado na animação de 1991. Tirando uma ou outra diferença, o filme é uma reprodução bem fiel do desenho animado – incluindo cenas e músicas exatamente iguais. Dirigido por Bill Condon (de “A Saga Crepúsculo: Amanhecer” e “Dreamgirls”), funciona mais como uma homenagem à animação do que como uma história nova.

Quem esperava ver uma trama contada de maneira diferente ou sob outro ponto de vista vai se decepcionar. Mas aqueles que curtiram o desenho na infância vinte e poucos anos atrás e desejam reviver aquela experiência provavelmente vão gostar bastante. Para quem ainda não conhece direito a história e não assistiu ao desenho, o filme funciona bem como uma apresentação do conto.

A escolha de Emma Watson para o papel principal foi bem acertada. A atriz é carismática e consegue equilibrar a doçura com a inteligência e um toque de rebeldia de Bela. Assim como na história original, Bela adora ler e é considerada esquisita pelo povo de sua aldeia. No novo filme,ela é ainda mais independente. A garota inventa uma “máquina” de lavar roupas, para aliviar o trabalho doméstico pesado, e ensina meninas mais novas a ler, enfrentando a fúria dos aldeões que achavam que lugar de mulher era em casa (apenas os meninos frequentavam a escola na época).

Porém, esse toque de modernidade é apenas um pano de fundo para a história principal: a do príncipe egoísta e cruel que maltrata uma velha feiticeira e acaba sendo transformado em uma criatura terrível, condenado a viver daquela maneira até ser capaz de amar alguém e ter esse amor retribuído. Por conta de um deslize bobo do pai, a Fera aprisiona o homem, e a corajosa Bela toma seu lugar como prisioneira. Aos poucos, a garota vai percebendo que a criatura tem um lado bom.

Uma das críticas em relação ao filme é que a edição às vezes se mostra um pouco apressada. Isso fica claro na relação dos personagens principais. Bela passa muito rapidamente de uma prisioneira, que deveria sentir-se revoltada em relação a seu captor, para amiga da Fera. Incomoda um pouco ver a personagem tão resignada e tranquila dentro de uma situação abusiva. image006

O filme reforça a relação de Bela com o pai e, de novidade, mostra um pouquinho da história da mãe da Bela e também da mãe da Fera. É uma passagem muito rápida, mas que explica por que o príncipe tinha aquela personalidade detestável no começo da narrativa.

Os outros atores que merecem destaque são Luke Evans, como o vilão canastrão Gaston, e Josh Gad, como seu lacaio LeFou. A propósito, se você ouviu falar de cenas polêmicas envolvendo um personagem gay, esqueça. Sim, LeFou é homossexual e se sente claramente atraído por Gaston. Mas não há nenhuma cena que seja imprópria para menores, e o fato de LeFou ser gay não muda em nada a história principal.

 

Coadjuvantes de luxo, os atores que interpretam os objetos encantados do castelo reúnem nomes de peso, como Ewan McGregor, Emma Thompson, Ian McKellen e Stanley Tucci, e conseguem envolver e até emocionar o espectador.

A Fera, interpretada por Dan Stevens, não é ruim, mas podia ser melhor. A produção do filme misturou maquiagem com computação gráfica. O resultado é satisfatório mas, com toda a tecnologia cinematográfica disponível hoje em dia, era de se esperar que víssemos uma criatura mais expressiva na tela.Beastmenor

Em resumo, “A Bela e a Fera” é um filme bonito, muito bem-feito em relação ao figurino, cenários e adaptação histórica, com momentos tocantes e atuações boas. Não é uma produção que vá mudar a história do Cinema, mas vale o ingresso e a pipoca.

Fotos: Divulgação / Disney

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