Dando respostas curtas e grossas: não e não. Em resumo, dar muito colo para o bebê ajuda no desenvolvimento psicológico e físico da criança. E, por colo, estamos falando de algo mais amplo do que carregar o filho nos braços. Estamos falando de abraçar, tocar, beijar, conversar, em suma, dar atenção.
Esses foram os assuntos debatidos em encontro realizado pelo laboratório Sanofi no último dia 14, em São Paulo, que reuniu especialistas e pais.
Como a psicanalista Vera Iaconelli explica, o parto já é o primeiro choque da vida do bebê. No útero o bebê está confortável, não sente fome nem frio. Ele ouve os barulhos da mãe: o ruído do pulmão, do intestino, e está confortável e acolhido. “Mesmo no parto mais bacana, imagina sair desse aconchego para o mundo, é como cair em um abismo”, afirma. “É claro que o bebê nasce com essa sensação de voltar para o colo”.
Ou seja, aquela noção de que o bebê chora para “fazer manha” ou “manipular os pais” não faz sentido. “Um bebê não tem nem a capacidade cognitiva de fazer isso”, afirma a pediatra
Florência Fuks. Segundo a médica, nos primeiros meses de vida, o estar solto, estar sozinho no berço, é de fato angustiante para a criança.
Para Vera Iaconelli, o bebê que não recebe colo pode crescer com necessidade de amadurecer rápido demais. “A criança fica tensa, preocupada, não relaxa”, diz.
Além disso, no começo da vida o bebê não tem noção do próprio corpo, não sabe onde começa a cabeça e onde termina o pé. “São os cuidadores que vão dando o toque e vão ajudando o bebê a entender o formato que ele tem. E é nessa troca de toques e cheiros que os pais vão formando a cumplicidade com os filhos, construindo um vínculo, o que para o ser humano é fundamental”, diz.
Para a pediatra, os pais não devem ter receio de dar carinho em excesso, com medo de mimar demais os filhos, porque não é isso que vai “estragar” a educação dos filhos. E, para a médica, é mais fácil corrigir o excesso do que a falta de atenção.
A médica também afirma que ter uma rede de apoio da família “blinda” a criança de situações estressantes da vida, como uma separação dos pais ou uma morte ou doença grave em alguém próximo. Quando não há essa proteção, uma situação de estresse extremo, como viver em condições de pobreza extrema ou em ambientes violentos, pode se tornar tóxico, afetar as conexões neuronais, podendo causar problemas de aprendizado, e até aumentar o risco de o indivíduo desenvolver, futuramente, problemas de saúde como pressão alta, diabetes e câncer.
Isso não significa que os pais (especialmente a mãe, que costuma passar mais tempo com o bebê no início da vida) precisam ficar 24 horas por dia grudados com o filho. Passado o período “simbiótico” dos três primeiros meses, quando o bebê precisa de mais colo mesmo, os pais, ou um dos dois, pode se ausentar em algum momento. “É também necessário não estar em alguns momentos, para o bebê dar conta dele consigo mesmo, se suportar sozinho um pouquinho”, diz
A psicanalista Vera Iaconelli concorda. É preciso deixar o filho andar com as próprias pernas conforme ele cresce. “A criança vai perdendo esse lugar do colo mas ganha o mundo, os amigos, a escola, as brincadeiras. Se a mãe não ficar muito triste com esse desapego, vai ter um filho que se desenvolve, o que é ótimo”. Mas o “colo” é para sempre. Dar colo também é ouvir, dar atenção, é o que os humanos fazem uns pelos outros para mostrar que estão reconhecendo seu sofrimento.
Para o blogueiro Thiago Queiroz, do Paizinho, Vírgula!, o colo paterno também é muito importante, até por ser um colo diferente do da mãe que amamenta. “Sou a favor do colo em livre demanda. Tirando amamentar e parir, o pai pode fazer tudo o que a mãe faz, dar colo, fazer dormir etc”.
A atriz Sheron Menezes, também presente no evento, se define como uma mãe que dá muito colo para o filho, mas acha importante os pais se policiarem para não sufocarem os filhos. “Às vezes os pais querem dar o colo, pegar, e a criança não quer naquele momento”, afirma.
Portanto, da próxima vez que alguém te criticar por dar muito colo para o seu bebê, diga a essa pessoa que estudos comprovam que carinho e atenção formam crianças mais seguras e ajudam até no seu desenvolvimento intelectual e físico.
Foto: Ryan Polei