De volta às aulas presenciais em Manaus, no Amazonas, uma professora encara rotina de medo em meio à pandemia de coronavírus. Jéssica, nome fictício dado pela Universa para preservar o anonimato da entrevistada, não se sentia preparada para retornar às salas de aula no dia 20 de julho. “Foi muito precipitado”, opina a educadora.
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A professora, que dá aulas de inglês para alunos do ensino médio em uma escola pública e para o ensino fundamental 1 (quarto e quinto anos) em uma instituição particular, conta que teve insônia na véspera do retorno às atividades presenciais na rede privada.
Em uma turma de 22 alunos, apenas 8 compareceram no primeiro dia de aula depois da quarentena. Segundo Jéssica, muitos pais se sentiam inseguros para mandar os filhos para a escola. Os alunos foram divididos em três grupos, a turma A com aulas às segundas e quartas, a turma B, às terças e quintas, enquanto a turma C seguia apenas com as atividades online.
Apesar das medidas de proteção adotadas pela escola, como testes de covid-19 para professores e álcool gel espalhados em pontos estratégicos, a professora diz que o medo era frequente. “O corpo docente estaria imune, mas não sabemos a realidade dos alunos, se contraíram ou não, se têm coletores, se estão assintomáticos”, afirmou.
Adaptada à rotina, a educadora voltou a ficar apreensiva com a notícia de que deveria retomar também as aulas na escola pública. Outra noite de insônia para Jéssica. A realidade que encontrou na rede estadual foi outra, com alunos sonolentos e dispersos e maior exposição ao coronavírus. A retomada se deu com, no máximo, sete alunos em sala de aula.
Segundo a professora, o governo oferece o mínimo de material de higienização e as escolas não sabem por quanto tempo terão sabão e álcool gel à disposição. Além disso, o ambiente estava tomado pelo luto. Muitas crianças relatavam a perda de amigos e familiares, vítimas da covid-19. Havia também a dificuldade de fazer os alunos usarem máscara nas salas de aula.
O “novo normal” para Jéssica é uma realidade na qual professores ficam tensos ao ir ao trabalho, o assunto entre os alunos é sempre o coronavírus e o uso da máscara é um “martírio” no cenário educacional.
Apesar da situação estressante, a professora não buscou auxílio psicológico oferecido pelas escolas e evita tomar medicamentos para controlar a ansiedade e a tensão. Autocontrole é a palavra-chave para Jéssica, que fica em comunicação constante com os alunos mesmo fora de seu horário de expediente e tem trabalhado dobrado para dar conta das aulas presenciais e das atividades remotas.
Segundo a Universa, o caso de Jéssica não é uma exceção. A reportagem conversou com outros dez professores que já voltaram ou estão próximos de retornar às salas de aula no Amazonas e no Rio de Janeiro, e a tensão é unânime entre eles. A incerteza também é motivo de estresse entre os profissionais, que consideram a retomada “precipitada e irresponsável”.