Uma juíza do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro negou indenização pedida por família de uma criança que foi mordida em uma creche. A família pedia R$ 20 mil de indenização do estabelecimento.
A decisão da juíza Vanessa de Oliveira Cavalieri Felix diz que “não há nos autos nenhum fato que extrapole algo normal dessa fase da vida”.
O texto da juíza ainda diz que “crianças dessa idade frequentemente adotam comportamentos que seriam inadmissíveis para crianças mais velhas ou adultos. Choram quando contrariadas, empurram, batem, gritam. E mordem”.
“De fato, dói no coração da mãe receber o bebê no fim do dia com uma marca de mordida no seu bracinho. Certamente, a mãe da outra criança também sofreu ao ser informada de que o Autor havida batido, ou arranhado, ou mordido seu filho. Mas o sofrimento faz parte do crescimento. Já diz o ditado, ser mãe é padecer no paraíso”, disse a magistrada em sua decisão.
A juíza ainda acrescentou que a situação poderia ter sido resolvida “de forma madura e com mais diálogo entre envolvidos”.
Para a pedagoga, gestora escolar e analista comportamental, Mariza Baumbach, apesar de nenhum pai querer ver seu filho sendo agredido, mesmo que por uma criança da mesma faixa etária, o comportamento da mordida que ocorre com crianças de um a dois anos é comum e muitas vezes frequente.
“A mordida é uma forma da criança desta idade demonstrar suas emoções enquanto ainda não domina a linguagem. A ansiedade em comunicar o que lhe incomoda, ou que lhe frusta, pode vir a gerar este comportamento”, diz Mariza.
Mas, apesar de ser um comportamento previsível nessa fase de desenvolvimento, a pedagoga diz que os pais não devem deixar de se comunicar com a escola caso seu filho sofra esse tipo de agressão. “É necessário conversar com a equipe, mas sem julgá-los por não terem tomado uma providência. Isto auxiliará a escola a ter um olhar mais atento a esta criança que se expressou pela mordida e perceber se é algo recorrente, com a mesma criança ou foi uma ação pontual”, afirma.
Ao mesmo, diz ela, é preciso ensinar às crianças a se defender. “E quando falamos em defesa, não estamos falando em devolver com a ‘mesma moeda’, mas ensiná-los que não podem ser mordidos ou agredidos, ensinar que a criança deve procurar a ajuda de um adulto”, afirma.
Já procurar a família do agressor não é indicado. “As crianças em breve já não se lembrarão do fato e podem se tornar amigas, enquanto que entre os adultos podem surgir animosidades”, diz Mariza.
E se meu filho for o agressor?
Da mesma forma que é necessário ensinar a criança a se defender, é igualmente importante ensiná-la a como reagir às emoções. A criança que morde também precisa de um olhar especial, pois ela ainda não sabe como lidar com seus sentimentos.
Se as crianças mordem para comunicar algo, então é preciso mostrar como agir para avisar que não gostou de alguma coisa. “Isto pode ser feito mostrando que a criança precisa procurar e falar com um adulto (professora/cuidadora), ensinar que a mordida machuca e dói em seu colega”, diz a pedagoga.
Atenção: Jamais morda a criança como forma “educativa” para que ela sinta dor (sim, há adultos que fazem isso). “Isto só mostra ao filho que é possível agredir dessa maneira”, diz Mariza. Nunca dê risada quando a criança morde outra criança ou um adulto e tente agir preventivamente quando perceber que o pequeno está prestes a morder alguém, explicando por que ele não deve fazer isso.
“Mesmo a criança sendo pequena e que pareça que ela não entende, aos poucos ela passa a deixar o hábito e passa a se expressar de outra forma”, diz pedagoga.