Criação de cotas na concessão de bolsas escolares e aumento na contratação de professores negros são algumas das políticas antirracistas propostas por famílias que se mobilizam contra a desigualdade social nas escolas de elite em São Paulo. O UOL conversou com pais e mães que se engajaram nessa causa.
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Mãe de um aluno do 6° ano do Colégio Equipe, que tem mensalidade média de R$ 2.350, a advogada Evie Barreto Santiago criou, em conjunto com outros pais, uma comissão para discutir o tema. O coletivo escreveu uma carta, assinada por cerca de 90 pessoas, reivindicando a ampliação da representatividade negra entre os funcionários, revisão do currículo escolar valorizando a cultura africana e afro-brasileira e a estruturação de uma agenda antirracista.
Medidas semelhantes também são discutidas entre famílias do Colégio Oswald de Andrade, cujo valor médio da mensalidade é de R$ 3.522. Um coletivo antirracista composto por 25 pais e mães faz reuniões online semanalmente. Para o cientista social Cassio França, que tem dois filhos matriculados no colégio, é preciso mudar as referências pedagógicas e visuais para tornar a escola um ambiente acolhedor para todas as raças. Já o empreendedor e jornalista Rosenildo Ferreira quer ver políticas antirracistas mais robustas saindo do papel nas escolas.
O coordenador de comunicação do Oswald de Andrade, André Ferreira Santos, acredita que os pais e mães negros temem matricular seus filhos no colégio, que possui cerca de 20 alunos negros em um total de 820 estudantes, por medo da exclusão e valoriza a iniciativa inédita.
“Nunca vi iniciativa como essa. Acho que vem de uma comoção desse momento em que a sociedade percebe preconceitos que as pessoas negras vivenciam todos os dias. Considero muito importante que essas mudanças comecem pela educação”, diz.
Também na luta por políticas antirracistas, um grupo de pais do Colégio Santa Cruz se formou há cerca de dois meses e discute formas de atrair mais estudantes negros para a escola, com mensalidade média de R$ 4.180. Há cerca de 20 alunos negros entre os 2 mil matriculados. No corpo discente, são cerca de 10 a 15 professores negros entre 300.
Segundo Valquiria Jovanelle, mãe de um estudante da Educação Infantil, o grupo está pensando em criar um fundo dentro da própria comunidade escolar e junto a outros interessados para captar recursos para financiar alunos bolsistas. Além disso, eles querem atrair as famílias que já podem arcar com a mensalidade, mostrando que a escola é acolhedora.
Há também coletivos de famílias lutando por políticas antirracistas na Escola Vera Cruz, no Colégio São Domingos, na Escola Alecrim e na Escola da Vila. Os colégios, por sua vez, se dizem abertos às propostas dos pais e mães, mas não têm uma “meta traçada” para colocar as medidas em prática.
Quanto ao ensino de história e cultura afro-brasileira, o conteúdo é obrigatório por lei entre as disciplinas que já fazem parte das grades curriculares dos ensinos Fundamental e Médio desde 2003. No entanto, o tema não costuma ser usado como ferramenta no combate ao racismo. As escolas ouvidas pelo UOL dizem que há projetos sobre o assunto.