Há quatro meses em isolamento social durante a pandemia do novo coronavírus, algumas famílias com crianças identificaram alterações no comportamento e no desenvolvimento dos filhos pequenos, segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo. Os pais entrevistados relataram atrasos na fala, alterações do sono e apetite, além de maior dependência e até mesmo regressão entre as crianças em restrição do convívio social.
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Com 1 ano e 4 meses, Santiago tem descoberto o mundo apenas da sacada do apartamento da família. A psicóloga Aluene Silva contou que o filho estava começando a falar suas primeiras palavras, mas que seu desenvolvimento ficou estacionado com a falta de novos estímulos.
Já Lia Miranda, de 2 anos, frequentava a escola e passava pelo processo do desfralde antes da suspensão das aulas. De acordo com a mãe Júlia Miranda, a menina desaprendeu a pedir para ir ao banheiro. Apesar da dificuldade, a família conseguiu completar o desfralde, entretanto, a criança pede atenção e colo o tempo todo. Além disso, Lia não mostra mais vontade de ver os amigos e a professora nas aulas online.
A mesma situação é relatada pela fisioterapeuta Janaína Mussi, mãe de Davi, de 5 anos. Se no início do isolamento social o garoto mostrava entusiasmo com as aulas a distância, aos poucos, foi perdendo interesse nas atividades virtuais. Ela também compartilhou que o menino tem chorado com mais frequência.
A falta de vontade de falar com os amigos por vídeo também “contaminou” Benjamin, de 3 anos. A mãe, Stefania Merenstein, afirmou ao jornal que a criança se acostumou a ter contato apenas com adultos na pandemia e que o garoto se sente tão ligado aos pais que não quer dormir sozinho na própria cama.
Palavra do especialista
A psicanalista e psicóloga escolar Paula Albano explica que a experimentação tem um papel central no desenvolvimento e na memória das crianças, especialmente até os 5 anos. “Estamos vivendo algo inédito e nem mesmo os adultos têm repertório para lidar com todas essas privações, medos e inseguranças. É uma situação comparável a guerras, desastres naturais. Para a criança, é ainda mais difícil, por isso, ela busca situações em que se sente mais segura, quer mais atenção dos pais, mais colo, chora mais”, disse a profissional ao jornal.
Para Maria Beatriz Linhares, professora do Departamento de Neurociências da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, os pais devem ter mais tolerância com os comportamentos das crianças, que estão sentindo o estresse das mudanças provocadas pela pandemia. Mas as famílias devem procurar ajuda caso dificuldades como não conseguir dormir ou comer persistam.
Leia a reportagem completa na Folha de S. Paulo.