Depois da morte do filho Lucas, vítima de um tipo de câncer que costuma aparecer em crianças com menos de cinco anos de idade, Joel de Oliveira Junior criou um “band-aid” que, colado na axila, monitora a temperatura dos pacientes. Em entrevista a Tilt, o pai contou que a empresa Luckie Tech nasceu de sua vontade de “ajudar de alguma forma”.
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Às vésperas do aniversário de um ano, Lucas foi diagnosticado com neuroblastoma na glândula suprarrenal. O menino tinha febres recorrentes e, após um ano e meio de luta contra o câncer, morreu por causa de uma infecção. Invadido pelo sentimento de luto, o pai decidiu agir. A ideia do aparelho surgiu em um sonho: “Era uma nuvem que ficava acima da criança, pairando.”
Durante o tratamento do filho, o engenheiro e a ex-mulher monitoravam a temperatura de Lucas a cada três horas. Diante dessa experiência, Joel resolveu desenvolver um dispositivo que permitisse medir a temperatura de crianças com câncer o tempo todo. O gadget não é completamente novo, mas não havia até então qualquer outro aparelho que compartilhasse os dados coletados com o hospital.
Em parceria com o médico Wagner Marcondes, do Hospital Albert Einstein, e William Sousa, presidente do grupo Kainos de Inteligência Artificial, a Luckie Tech saiu do papel seis anos depois da perda de Lucas, que morreu no dia 28 de junho de 2013. O primeiro protótipo, do tamanho de um celular e pouco prático, deu lugar a uma versão do tamanho de um curativo, que ficou pronta no fim de fevereiro deste ano.
O “band-aid” compartilha os dados sobre a temperatura das crianças com câncer com os pais e com um sistema ligado ao hospital. Além do hardware, há uma plataforma em nuvem para armazenar e trocar informações. Ao todo, foram gastos cerca de R$ 2 milhões no desenvolvimento do aparelho. “Investi meu carro, meu apartamento nesse projeto”, disse o pai a Tilt.
A operação terá início com 50 pacientes no Gacc (Grupo de Assistência à Criança com Câncer), em São José dos Campos (SP). Os primeiros testes serão feitos em adolescentes para que o aparelho possa ser aperfeiçoado. No futuro, o foco está nas crianças menores. Para a implementação, a Luckie Tech criou uma campanha de financiamento coletivo, com meta de R$ 800 mil, para assegurar a trabalho por pelo menos um ano. Quanto ao monitoramento, será cobrado o valor de R$ 250 por criança. Atualmente, o custo fica a cargo do SUS e de convênios médicos.
O “band-aid” tem um processador que poderá mapear até cinco sinais vitais. “Primeiro decidimos deixar o monitoramento de temperatura pronto. Agora vamos investir nos batimentos cardíacos e frequência respiratória”, explicou Joel ao site. Com a coleta de dados, a empresa espera que o dispositivo ajude a captar, no futuro, os efeitos colaterais dos tratamentos do câncer, podendo, assim, ajudar no desenvolvimento de um medicamento.