Desde o início da pandemia de coronavírus o álcool gel se tornou um produto indispensável. E, principalmente depois da reabertura do comércio e outras atividades, totens de álcool gel têm se tornado cada vez mais comuns em estabelecimentos.
Porém, esses dispositivos acarretam um risco muitas vezes desconhecido: eles têm causado muitos acidentes oculares em crianças, especialmente na faixa etária de 2 a 5 anos.
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Muitos estabelecimentos comerciais adotaram o totem de álcool gel pois ele é acionado com os pés. Assim, as mãos são higienizadas sem a necessidade de tocar o objeto. Mas, ocorre que a maioria desses totens mede por volta de um metro ou menos. Com isso, quando uma criança se aproxima e aciona o pedal, o jato do álcool pode atingir diretamente o rosto e a área dos olhos.
Segundo Marcela Barreira, oftalmopediatra especialista em estrabismo, tem sido relativamente comum atender crianças que se acidentaram assim, ao acionar um totem de álcool gel. “Além da altura ser compatível com a área facial de uma criança menor, o bico dosador não costuma ser curvado, o que ajudaria a evitar esse tipo de acidente. O bico dispensador costuma ser reto e, com isso, o jato pode atingir diretamente os olhos das crianças”, diz.
Dor pode ser extrema
Acidentes domésticos na infância são comuns. “Com a pandemia, as crianças têm acesso mais fácil ao álcool gel. Por isso, é muito importante explicar que a substância não deve ter contato com o rosto, devendo ser usada apenas para a higiene das mãos”, reforça Marcela.
A médica explica que o álcool gel pode causar uma queimadura química na superfície ocular. “A queimadura do olho com álcool costuma ser extremamente dolorosa. A ardência é tão forte que faz o xampu parecer água, se formos comparar a intensidade da dor”.
“A tendência na hora do acidente é de fechar os olhos. Isso deve ser evitado, pois irá manter o álcool dentro do olho. Os pais devem imediatamente lavar os olhos da criança com água, por bastante tempo, cerca de 15 minutos. Essa lavagem é muito importante e vale para qualquer produto químico que tenha contato com os olhos”, explica a médica.
Emergência oftalmológica
Depois da lavagem, é preciso procurar um hospital oftalmológico de urgência para avaliar os possíveis danos aos olhos. “A gravidade da queimadura vai depender da quantidade do produto que entrou em contato com os olhos, bem como de como a lavagem foi feita. Os danos podem ser superficiais e tendem a melhorar de forma espontânea”, diz a oftalmopediatra.
Após o acidente, os olhos podem ficar vermelhos, doloridos e inchados como consequência de uma inflamação. “Mas há casos em que a substância pode afetar a córnea, com danos que podem ser reversíveis com tratamento”, diz Marcela.
Problema é mundial
Os acidentes com os totens de álcool gel não são exclusividade do Brasil. Segundo o Ministério da Saúde da França, entre 11 de maio e 24 de agosto desse ano foram registrados 63 casos de crianças, com idade média de 4 anos, que sofreram queimadura ocular com álcool gel.
“Além do totem de álcool gel, podem ocorrer outros acidentes. É preciso reforçar que o produto não deve ser guardado dentro do carro ou em locais com altas temperaturas. Já houve relatos de explosão da embalagem devido a exposição ao sol”, afirma a oftalmopediatra.
Por fim, toda e qualquer substância química, como detergente, água sanitária, desinfetantes, entre outros, devem ser mantidos fora do alcance das crianças.